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Floresce o homem rebelde...

Floresce o homem rebelde entre as frestas nos arcabouços da clausura, do planalto às lezírias, em mares ígneos navegados espelhando tímidas lágrimas coloniais, rostos mancebos sulcados lavravam saudades lívias de pai e mãe e dos torrões matinais arados. Na floresta de salgueiros e maias um exército pacífico de bravos, forja em silêncio desejado armas que florirão cravos. De frente mirando o horizonte, à sombra do esquecimento uma nação, comandavam o progresso da paz armados de abril em brasão. Silenciada a amargura de uma boca esfomeada ou cúspide ditadura, alcançou-se em regozijo tranquilidade celeste, porque o infinito não tem idade se despojado veste a nudez da liberdade.   (poema 25 de Abril, para actividade na Esc. Sec. Penafiel)

Geografia

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“Geografia", felizes encontros na minha secção Crónica do Nada , no Correio do Porto. Estaciono sob os chilreios floreados de plantas que desconheço, atrás do gradeamento que sorri metalicamente com as brincadeiras dos miúdos na hora do intervalo entre aulas. Está o planeta, pelo menos neste hemisfério, na Primavera, assim como a canalhada, floreando, sem grandes preocupações com os Outonos futuros que lhe trarão tonalidades acinzentadas. Aguardo à entrada que me atendam. A porta aberta ao público obriga-se a controlar fluxo de entradas e saídas, o progresso chega a todo o lado. Contei vários equinócios de Março, já, no entanto, vejo-me sempre criança à porta de uma escola, como se o tempo me conhecesse apenas agora, miúdo, sem nunca saber fazer-me graúdo. Envergonhado, vou percorrendo memórias de Abril por quem nunca as viveu, senão pelos cravos dos livros de História. Escondo-me atrás da aparência adulta, rodeiam-me sonoridades e trinados que sobem e descem patamares, degraus, a

Salgueiros

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 “Salgueiros”, um retorno às origens, na minha Crónica do Nada, no Correio do Porto . À saída da VCI e longe dos holofotes habituados a iluminar noites de futebol azul e branco, as rotundas rotundadas convidam a enganar-me, falheiro que sou de trajectos urbanos, agora que me quero cada vez mais rural, plantado talvez àquilo que de mim me espero, um punhado de sementes de nada e um plantio fútil daninhando os jardins efémeros que são os milhões de anos à sombra de um Sol cansado, ainda que adolescente. Estaciono ao largo do Cerco, por entre pequenos paralelos perdidos por qualquer enxurrada ou calceteiro menos pródigo a arrumações graníticas. O céu cinzento assusta tanto quando o aviso de quem, mais à frente, convida a não deixar nada à vista dentro da viatura. A vantagem de nada ter, é mesmo o facto de nada me poderem roubar. Não termino o raciocínio e já uma saraivada localizada abre alas a uma matiz brilhante da manhã que espreita por entre os gradientes cinzentas do firmamento. A ma

Brasão

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“Brasão”, crónica no Correio do Porto , na minha secção " Crónicas do Nada ". As estradas, quando não nos levam aos locais que conhecemos, serpenteiam por entre localidades onde somos estrangeiros. O desconhecimento acaba por pincelar as serranias de verde onde o cinzento urbano já nada nos consegue colorir. Enquanto saboreio a viagem, curta, por não saber onde estacionar com o cuidado e zelo em não estorvar ninguém, um pouco como aprendi a fazer na vida, galgo a imaginação debaixo dos toldes e oleados da feira, assente no revitalizado mercado do Couto. Já por lá não andam damas e cavalheiros, cavaleiros e futuros reis conquistadores e guerreiros. Agora, pijamas cardados espreitam por debaixo das abas das calças desportivas, talvez saboreando a manhã fria sem que a riqueza dele se ria, repousando na chinela de plástico moldada por uma máquina gélida e cansada, em oriental escravidão laborada. Do lado de lá da estrada, o lado de cá de quem por lá está, cigarros consomem fumado

Paz, o quão difícil pode ser, rapaz?

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“Paz, o quão difícil pode ser, rapaz?” ou mais uma Crónica do Nada , no Correio do Porto. No olhar embaçado do meu pai encontro o reflexo das sanzalas, picadas, regatos coloridos de peixes futuros e uma terra que paria abundância com a facilidade dos sonhos mancebos em terras distantes, separadas por um oceano nauseado em porões defecados por animais e o medo do desconhecido pelos umbrais. O empoeirado estacionamento separado do restaurante onde seria o convívio avivava a ansiedade. A viagem sulcada em toada serena amanhecia junto com o dia de sobriedade amena. Subimos a escadaria do moinho, sorriem vigorosamente do fundo de uma vida envelhecida, rodeando uma távola circular, cavaleiros do ultramar. Nas minhas feições reconhecem os traços de quem me cedeu a genética, confundem-me com o Velhinho, sorrio da situação, bebo um café rápido e chamo a restante comitiva familiar, em terra alheia, amigos estranhos transformam-na em lar. Com a cavalaria a caminho, cumprimento quem do nada me cha

Lanterna

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"Lanterna", a mais recente crónica do Nada no Correio do Porto . Ao cimo das escadas, o andor era solenemente enfeitado com a gordura condensada da fritura das rabanadas. O odor ameno a canela e açúcar amarelo, depois de embeber o cacete fatiado, adornava o resto do tecto que, por entre as marcas da humidade persistente, espreitava feliz para a estrela encimada na crista do petiz pinheiro de Natal. Resinoso ainda, adormecido entre os musgos arrancados com as mãos em fartos tufos às húmidas costas da pedreira, sacudia orgulhoso as luzes intermitentes que projectavam um firmamento iluminado do espectro visível de cada vez que se desligava a luz do candeeiro da sala, junto com pinhas e bolas de chocolate embrulhados no acetinado papel colorido, prateado, antecipando o adocicado travo na boca quando se deixa derreter o cacau com todo o tempo que a infância encerra.   Duas ou três travessas, atravessadas num canto da mesa da sala, sobre a toalha vermelha e branca, estampada com dó

São Simão

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“São Simão”, crónica do Nada, no Correio do Porto ( aqui ). Com o Domingo a transpirar em bátegas de água, resta-me navegar pelos riachos enfurecidos que escoam ao fundo da estrada, depois dos paralelos, até se aninharem nas verdes encostas de campos abandonados. Dizem que chove, consulta-se oráculos digitais cujos algoritmos, cada vez mais acertam menos, tais as vicissitudes climáticas que, tal como o Homem, estão cada vez mais estranhos. No meu resguardo à prova de água, sob o guarda-chuva inclinado ao vento, talvez em reverência a Eos, vou caminhando sem astrolábio ou balestilha. Há estrelas, mas não as vejo agora, pois a minha noite ainda não caiu e o firmamento, para já, é este tecido cinzento que se encima sobre as varetas. A placidez de um São Simão chuvoso, entre falos exagerados com laços azuis e cor-de-rosa, pendurados nos toldos impermeáveis das doceiras, e autocarros estacionados entre regatos, vai contrastando com as canecas de vinho novo, tintadas pela inconstância de mão